O encontro marcado – Fernando Sabino – Civilizaçao Brasileira – Quinta Ediçao – Blanda

**O encontro marcado**: "Foi caminhando pela praia e insensivelmente tomou o rumo do bar, o passo irregular e obstinado: a sède o consumia.
Da esquina surgiu uma mulher, que o chamou sem cerimônia:

-Psiu!

Deteve-se, ela veio se aproximando:

-Sòzinho, meu bem?
-Não - respondeu, lembrando-se sùbitamente de Mauro e começou a rir, apontou para cima: - Com êle.

- Com quem?
Com Deus.

A mulhr recuou um passo:
-Vocè está bêbado.
E a mãe. Até logo, estou com pressa.

Enquanto caminhava, sentía os olhos se encherem de lágrimas. "Devo estar mesmo bêbado", pensou, percebendo que era ridiculo e sem nexo chorar na rua àquela hora. Mas a verdade é que estava mesmo sòzinho. Procurou discernir as luzes do bar.
Já não havia luz, o bar se fechara. Ficou revoltado: era uma traiçao! Fôra vítima de uma cilada. Ou, quem sabe? ainda havia alguém lá dentro. Pôs-se a sacudir a porta cam violència:

-Abre isso aí!
Não havia ninguém, tudo às escuras. Enraivecido, apanhou uma pedra junto aomeio-fio e atirou-a contra os vidros da porta, que se partiram, retinindo. Depois ficou por ali, resmungando. Dentro em pouco, alertada por um dos moradores do edificio, que ouvira o ruido, chegou a radiopatrulha e o prendeu".

Esta é a história de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida, e quase absorvido por uma brilhante boêmia intelectual, seu drama interior evolui subterrâneamente, pondo a nu os equivocos fundamentais que vinham frustrando sua existência e sufocando sua vocação.
Mas esta é também a história atormentada de tôda uma geração, naquilo que ela tem de tôda uma geração, naquilo que ela tem de essencialmente dramático - a procura do seu caminho, dos seus instrumentos de ação e afirmação. Um verso de Carlos Drummond de Andrade, "vivido" em dado momento de embriaguez literária, terá tanta fôrça emotiva quanto uma reminiscéncia amorosa, incorporando-se à desconcertante experiência pessol de quem trava um duelo de morte com a vocação furtiva.

Iniciando-se ainda na adolescência com um livro de contos, Fernando Sabino chamou a atenção para seu nome em 1944, com uma novela, A Marca. Em 1948, voltando dos Estados Unidos, onde vivera cêrca de dois anos, faz sucesso com um livro de crônicas, A Cidade Vazia, de interêsse sempre atual pela surpreendente sagacidades publicou um livro de novelas, A Vida Real, onde exercita a sua técnica de ficcionista em novas experiências literárias. Com O Encontro Marcado, seu primeiro romance, em cujas áginas movimentadas o leitor por certo encontrará o melhor de sua prosa, ora alegre, ora densamente dramática - o escritor mineiro abre à sua carreira um caminho novo dentro da literatura nacional.